O jornalismo da pós verdade

29 set O jornalismo da pós verdade

Em 2016, o Dicionário Oxford elegeu a expressão “pós-verdade” como a palavra do ano. O dicionário conceituou o termo como as “circunstâncias em que os fatos objetivos influenciam menos a formação da opinião pública do que os apelos à emoção e à crença pessoal”.

Há, porém, quem critique esse conceito. De acordo com o jornalista Marcos de Aguilar Villas Boas, não existem fatos objetivos, “pois todo fato, enquanto evento percebido pelo homem é subjetivo”. Segundo ele, transformamos fatos em linguagem, e, se há transformação, há interpretação, e, consequentemente, manipulação do fato pelo intérprete.

Há também quem acredite que o termo “pós-verdade” traz em si um peso simbólico muito forte, afinal, a verdade é filosoficamente difícil de ser definida e é, em sua essência, subjetiva. Dessa forma, defendem que a expressão “pós-fato”, criada pelo sociólogo e jornalista Farhad Manjo, seja mais adequada para tratar da questão.

Fato é que a expressão recentemente se tornou popular devido à grande quantidade de notícias falsas veiculadas nos meios de comunicação, principalmente os digitais. Não se tratam de diferentes interpretações dos fatos, mas da veiculação de notícias sabidamente falsas que tendem a promover determinadas opiniões e a gerar polêmicas.

Uma das marcas da “era da pós verdade” é que o potencial destrutivo da viralização de uma notícia falsa é imensamente superior ao poder restaurativo da sua refutação, do fact checking ou do direito de resposta. Para os que difundem Fake News, pouco importa que depois esta venha a ser desconstruída: o estrago já foi causado.

Para os jornalistas norte-americanos Bill Kovach e Tom Rosenstiel, a principal finalidade do jornalismo é fornecer aos cidadãos as informações que necessitam para serem livres e se autogovernarem, como pressupõe a democracia.

A Era Digital tornou necessária, diante de um intenso fluxo de informações, a divulgação de notícias preferencialmente sintetizadas. Cláudio Luiz de Carvalho, jornalista, explica que sua profissão demanda informar os acontecimentos à sociedade, e para tanto, implica na certificação da veracidade das informações divulgadas e em sua transmissão de maneira ordenada e confiável, garantindo, assim, que o interlocutor tenha todos os meios para tornar-se apto a processar a informação e produzir uma opinião sobre ela, conscientemente, com reflexão.

É possível concluir que as notícias falsas são prejudiciais em todos os sentidos e constituem um verdadeiro desserviço à sociedade, sendo necessária a união, tanto dos profissionais da área quanto da população, para combatê-las. Por isso, não repasse informações sobre as quais não tenha certeza da veracidade e não compartilhe manchetes sem checar o conteúdo da notícia. Leia mais sobre o assunto no informativo: FAKE NEWS.

Fontes:

DA PÓS-VERDADE AO RISCO DA PÓS-IMPRENSA; Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/edicao-brasileira-da-columbia-journalism-review/da-pos-verdade-ao-risco-da-pos-imprensa/; Acesso em: 07/06/2018;

REFLEXÕES SOBRE A LIBERDADE DE EXPRESSÃO DO PENSAMENTO E DE INFORMAÇÃO E O COMPROMISSO COM A VERDADE; Disponível em: http://www.lex.com.br/doutrina_27006525_REFLEXOES_SOBRE_A_LIBERDADE_DE_EXPRESSAO_DO_PENSAMENTO_E_DE_INFORMACAO_E_O_COMPROMISSO_COM_A_VERDADE.aspx; Acesso em: 07/06/2018;

CIÊNCIA E PENSAMENTO CRÍTICO SÃO OS DESAFIOS DO MUNDO “PÓS-VERDADE”, DIZ SUSAN GREENFIELD; Disponível em: http://www.fronteiras.com/noticias/ciencia-e-pensamento-critico-sao-os-desafios-do-mundo-pos-verdade-diz-susan-greenfield; Acesso em: 07/06/2018;

PÓS-VERDADE E CREDIBILIDADE NO JORNALISMO ESTÃO NO CENTRO DO DEBATE NO CONGRESSO DA ABRAJI; Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/pos-verdade-e-credibilidade-no-jornalismo-estao-no-centro-do-debate-no-congresso-da-abraji/; Acesso em: 07/06/2018;

OS ALGORITMOS DA REALIDADE NA ATUAÇÃO JORNALÍSTICA; Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br/pos-verdade/os-algoritmos-da-realidade-na-atuacao-jornalistica/; Acesso em: 07/06/2018;